terça-feira, 19 de junho de 2018

Desacomodar


Estou sentada no carro. Da janela, vejo vários carros que passam sem cessar, de um lado para o outro. Tento imaginar a vida dessas pessoas que estão dentro de seus automóveis. Alguns conversam alegremente, gesticulam e dão risada. Outros permanecem quietos, vidrados. Meu pai acaba de me chamar. Olho rapidamente pela janela e vejo: um caminhão tombado. Várias pessoas em volta, me incentivando a divagar. O que a pessoa dentro desse caminhão estava fazendo? Não quero me acostumar. Gosto de imaginar. E esse casal de idosos? A senhora olha para nosso carro que parte, velozmente. Meu pai alimenta esse costume. Imagino a desaprovação da idosa. Vejo uma menina que viaja sozinha, concentrada, pensativa, compenetrada. Será que ela se sente como um estudante no final de domingo? Meu pai me olha pelo espelho, finge que não o faz, mas eu vejo que faz. Imagino o que está pensando... Ou não imagino também, homens são bem imprevisíveis... Vários carros seguem seu rumo ao norte, nós dobramos à direta. 

Tem também aqueles veículos com vidros foscos, escuros e neles meu divagar voa alto... Que tipo de pessoa trafega ali dentro? Que vida se esconde atrás desses vidros negros? Que história, que medo, que angústia, que felicidade esse carro guarda? A faixa da direita é tranquila, passamos por vários animais e plantações. Eu teimo em dizer que a vida monótona nessas casas solitárias me levaria à loucura! Vejo o ciclista deixar seu corpo ao ápice, determinado e forte. No acostamento, percebo moças que esperam para desempenhar seu “trabalho”? Seguimos a linha reta, o caminho preciso. Vamos para casa. Os meus pensamentos? Ah, eles são a companhia para a mente, o meu lar. Porque eu não quero, não quero mesmo me deixar acostumar. Prefiro sonhar e seguir olhando pela janela. A vida passa e eu não posso me acomodar.




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